Real Virtual – Fábio Leão

mai 2015

QUALCASA
São Paulo . SP

Nosotros, de un vistazo, percibimos tres copas en una mesa, Funes, todos los vástagos y racimos y frutos que comprende una parra” (Funes, el memorioso,  de Jorge Luis Borges)

Assim como o Funes com sua inesgotável  memória e percepção infalíveis, cheias de detalhes cotidianos, Fábio Leão nos convida a entrar em seu mundo real-virtual, onde capta/recorda detalhes da  estrutura dos objetos e da arquitetura que o rodeia percebendo, registrando, concretizando aquela percepção.

A arquitetura o impacta de uma tal maneira que imagina suas origens desde o desenho inicial até sua realização. Às vezes pode expressá-la através da monotipia, outras vezes,  desenhando-a no espaço expositivo, sempre em escala real, conformando uma obra site-specific onde se diluem as fronteiras entre o trabalho e o espaço, provocando um efeito de estranhamento ao se perceber  “um espelhamento sem espelho”.

Fábio se apropria do espaço e das partes que o compõem, sejam paredes, janelas, portas ou chão recortando-as  em moldes de concreto a modo de vestígios arqueológicos que podem ser espalhadas no mesmo local, fazendo-se visíveis desde uma outra perspectiva. O concreto, áspero, poroso, pesado, remete às entranhas da própria arquitetura.

O objeto exposto no centro de outra sala, o banquinho, com suas partes moldadas também em concreto e apoiadas no chão, ele mesmo em sua solidão, estabelece uma conexão com o espaço circundante ao se deslocar de sua função original, propondo uma possibilidade de ver e pensar os objetos corriqueiros enquanto presença, matriz ou desenho.

Um outro aspecto do trabalho está relacionado à noção do tempo,  assim como a memória vai se constituindo no decorrer dos dias, a arquitetura precisa de tempo para se firmar. Uma vez constituída como espaço ou volume, oculta sua estrutura, mas as inquietações do artista a trazem de volta. Ela é capturada, revelada em sua potencialidade e recriada pelo fazer artístico de Fábio Leão que aqui se apresenta como “um captador de espaços’’. 

Isabel Villalba

Fábio Leão, nascido em Arapiraca, AL, Brasil, 1975, formou-se em Comunicação Social pela Universidade São Judas Tadeu, São Paulo em 1997. Vive e trabalha em São Paulo. Em 2015 ganhou o prêmio Aquisição da Bienal de Las Fronteras, coleção do Museo de Arte Contemporaneo de Tamaulipas, México. Em 2014 participou das residências artísticas "MacDowell Colony Fellowship", nos EUA e "Obras em Construção", na Casa das Caldeiras em São Paulo. Nesse mesmo ano, participou da coletiva “The Knowledge Within a Line”, na Pinta London Art Fair, em Londres. Em 2013 foi um dos premiados do Salão dos Artistas sem Galeria. Nesse mesmo ano, ganhou o Prêmio Aquisição no Futuro Salão Nacional de Artes Visuais de Jundiaí, Arte Contemporânea e Novas Tecnologias, participou da exposição “Arte e Design”, na Torre Santander, em São Paulo, com curadoria de Rejane Cintrão e, entre outras mostras, realizou a exposição individual “Deslocamentos”, na Galeria Cañizares da Escola de Belas Artes da UFBA, em Salvador. Em 2012 ganhou o Prêmio “Olho Latino” devido à sua participação na 6ª Bienal do Esquisito. Entre suas atividades artísticas, destacam-se ainda as exposições coletivas “Atelier Aberto”, no Instituto Tomie Ohtake, em 2004; e o III Prêmio Michelângelo de Pintura Contemporânea, no Centro Cultural São Paulo, concurso em que foi o primeiro colocado, sendo premiado com uma viagem a Paris.