360º – Mari Nagem
ago 2014
QUALCASA
São Paulo . SP
Por um vacilo qualquer, por um lapso de indecisão, o corpo balança, hesita, cambaleia, e cai. Na queda, o peso é sentido de outra forma. A paisagem é percebida por outro ângulo. De repente tudo pode ser inverso, sensação perturbadora de alívio.
Agora mais próximo; o mesmo chão do qual há instantes mantínhamos uma distância inquestionável, toma outra forma, sua escala e ordem são ameaçadas. Tombado, com o centro de equilíbrio abalado e o foco deslocado, o corpo se percebe vulnerável a um novo enquadramento, libertador.
O susto, o alívio e, por fim a escolha. Frágil e exposto, o corpo em um átimo de lucidez opta entre a recuperação instantânea ou permanece onde está. Permitindo-se novos parâmetros a partir desta perspectiva enviesada.
As coisas se apresentam menos estáticas, entende-se que o lugar que ocupamos está sempre a um passo de mudar e cada escolha poderia ser outra. Continuar caído, sentir o peso do corpo e se permitir ver além do que já se sabe, como poderíamos ser. O caminho que não trilhamos existe, cada afirmação são várias outras ainda não ditas, uma teia de pontos de vista, sem nenhuma definição ou finalidade. Exercício maior da vida; perda e afirmação.
Sugiro uma suspensão temporária da descrença. Pois não há outra escolha se não mergulhos em narrativas construídas. Toda existência é possível. São camadas de realidade dispostas sem hierarquia, entre o levantar e o ficar caído não existe verdade; representações. Falar de desvios da natureza não faz sentido, posto que a natureza é desvio. Graças!
Pintar montanhas inteiras de verde seguindo os mandamentos do Feng-Shui pode parecer absurdo. Não distorcido é somente aquilo que está ao nosso alcance, sem limitações sobre o certo e o errado. Se abrir, olhar através de um novo enquadramento - lugar turvo, permeável e poroso.
Nem tudo pode ser esclarecido, nem tudo pode ser evidenciado. Às vezes, à margem do que consideramos verdadeiro, existem possibilidades para todo um mundo de cogitações novas e férteis.